quinta-feira, 13 de julho de 2023

Enquanto o Pato ardia na brasa, o Menino chorava na praça.

Nota Importante! 
Esse relato retrata uma história real de fato ocorrido na Comunidade, mas, em respeito à possiveis opiniões de pessoas que possam não querer ver seus nomes aqui divulgados, me senti na obrigação de omitir os nomes dos personagens reais que fizeram parte da história. Caso eles queiram, posso citá-los.

Vamos aos fatos!

Após a despedida do querido Pé de Pano, eu precisava encontar um meio para afagar a tristeza da meninada e foi aí que, semelhante a um mágico, tirei um coelho - não, não; digo eu tirei foi um Patinho da Cartola.


Em verdade, eu comprei o Patinho numa loja e o abriguei num pequeno viveiro que fiz no canto do muro, ao lado do box do chuveirão, onde hoje é um pequeno jardim, próximo ao portão da garagem.

Era um Patinho Amarelinho lindo, quem o via podia até achar que era um irmãozinho daqueles  que foram passear além da montanha para brincar e, mesmo com a mãe fazendo Quá quá quá quá, nunca voltaram de lá.

Acertei em cheio. Meu Patinho, tal como o Pé de Pano do Adriano, também fez grande sucesso com a meninada que não arredava pé do meu portão, mas, por outro lado, já começava a me trazer problemas para entrar e sair com o carro da garagem, dado o número de crianças que ali ficava.

Numa conversa, me comprometi a colocar o Patinho na praça, todos os sábados, para que as crianças pudessem brincar e admirar a linda avezinha. Para isso, precisei fazer uma parceria com o Menino que era o mais entusiasmado com o Patinho e não deixava a criançada ficar puxando o Pato prá e prá cá.

A medida que o tempo foi passando, o Patinho foi crescendo e meus problemas aumentando. Gabriel sempre tirava o Pato do cercadindo para assustar Raquel e ele cagavam a garagem toda. Até que um dia Daniel levou uma surra porque saiu do futebol na praça, pisou na merda do Pato e  entrou em casa sujando tudo.

O Menino e outras crianças mantinham plantões no portão esperando eu aparecer para colocar o cercadinho e o Pato pra fora, a fim que eles pudessem bricar. Eu acho até que o Pato gostava deles.

O carinho deles para com a ave era tão grande que, mesmo já estando em ponto de abate, eu não conseguia aceitar a idéia de matá-la para comer.


O Pato cresceu tanto que alguns amigos viviam me perguntando quando é que eu ia botar o Pato prá rolo. Teve um até disse que tinha uma ótima receita de Pato com laranja, outro dizia que Pato bom era na brasa, mas retruquei e disse que não ia matar o Pato.

Meu problema só aumentava. Eu não tinha mais como manter aquele Pato gigante em minha casa e resolvi compartilhar isso com as crianças, tendo o Menino manifestado o interesse em ficar com o Pato. Ele me disse que ia pedir ao avô para fazer um um cercado maior e quando eu quisesse ver o Pato poderia ir até lá.

Expliquei a situação em casa. As crianças choraram mas entenderam e não houve oposição, prinipalmente porque sabiam que ninguém melhor que aquele Menino e suas irmãs poderia cuidar tão bem do Patinho que,
à essa altura, já era um grande Pato.

Contrariando os amigos que queriam comer meu Pato, não tive como negar o pedido do Menino que nomeei como Padrinho do Pato, antes, porém, comentei o assunto com o avô dele que me disse já saber a intenção do neto e que já estava preparando o cercado para abrigar o Pato.

Voltei em casa em compania do Menino e mais uma três crianças, desmontei o cercado, peguei o Pato e entreguei junto com a tela do cercado para as crianças. O Menino colocou o Pato no colo e partiu em disparada, antes que eu me arrependesse.

Naquele dia, não se via mais as crianças na praça, estavam todas ao redor do Pato na casa na casa do Menino. Só no dia seguinte foi que eu vi o Menino e as outras crianças passeando na praça com o Pato amarrado numa cordinha.

Duas semana depois, ao chegar na Praça para um papo com os amigos, achei um clima meio estranho com as crianças que estavam muio tristes lá ao pé da goiabeira da d. Raimunda. Quando me aproximei, vi o Menino chorando e perguntei o que houve. Pior resposta eu não podia receber:

O Menino soluçando, apontou lá pra casa dele e chorando disse: 

"Oha lá tio. Tá vendo aquela fumaça lá? Sim, eu disse. Pois é tio, estão assando o nosso Pato na churrasqueira pra comer bebendo cerveja".

Confesso que meus olhos lacrimejaram, mas segurei a onda e saí de perto das crianças com uma grande tristeza e fui para casa.


Quando cheguei do outro lado da praça, os amigos que estavam sentados no banco (e que já sabiam do que ocorrera com o Pato que eles tanto insistiam pra eu colocar na panela com suco de laranja ou na churrasqueira) começaram a me zoar, dizendo bem feito.

Fiquei chateado com os que comiam o Pato e com os amigos que me zoavam. Entrei em casa e logo depois passou a chateação. Não
guardei qualquer mágua de ninguém, só fiquei triste pelas crianças. Graças a Deus, meu coração não tem espaço para guardar mágoas ou recentimentos.

Agora, tanto tempo depois, uma dúvida ficou em mim e até hoje não consegui perguntar ao Menino se ele ainda gosta de Pato e, se gosta, como ele prefere o Pato no cercado ou no  prato? 

Será que esse texto vai chegar ao Menino e ele vai me responder aqui? 

Vamos aguardar!

por Sergio Nunes.
em 13/06/23.

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